Conjunto Arquitetônico
A Casa de Rui Barbosa é um exemplar típico das transformações arquitetônicas introduzidas com a vinda da Missão Francesa para o Brasil no início do século XIX, expressando-se numa continuidade dos padrões construtivos do período colonial e na introdução de elementos da linguagem neoclássica como, por exemplo, o frontão triangular, a modenatura das fachadas, a relação de cheios e vazios, os vãos em arco pleno e as esculturas que arrematam as platibandas.
A construção com sobrado parcial tem corpo principal com planta em forma de “U”, articulada ao corpo lateral recuado, voltado para o jardim. O corpo principal eleva-se sobre porão, cujo pé-direito original de 1,60 m era característico da tipologia “casa com porão alto” definida por Nestor Goulart no seu Quadro da Arquitetura no Brasil como “uma tipologia de transição entre a casa térrea da arquitetura colonial e os sobrados”, onde o porão exercia a função de espaço-tampão, protegendo a edificação da umidade ascendente, dos insetos e roedores.
No corpo central situam-se as áreas sociais e no corpo lateral localizam-se as áreas de apoio e serviços, seguindo uma distribuição tradicional com salões de visita na parte frontal e área de convivência nos fundos.
A fachada principal, integralmente pintada na cor rosa salmão, apresenta predominância horizontal quebrada pelo corpo central elevado. Tem largo avarandado, com gradil de ferro em toda a sua extensão e escadas em mármore branco de Carrara, ladeadas por leões de ferro fundido. Cinco portas e quatro janelas se dispõem com ritmo regular, distribuídas em três tramos delimitados por pilastras com fuste liso e capitel apresentando ornato aplicado. Todos os vãos têm caixilhos de madeira envidraçados e bandeiras em arco pleno com vidro, assim como guarnições em gnaisse, do tipo pedra de galho.
O corpo elevado, correspondendo ao tramo central da fachada, é subdivido em três seções delimitadas por pilastras com fuste canelado e capitéis de inspiração coríntia. Três portas com venezianas de madeira e bandeiras de vidro abrem-se para um balcão com guarda-corpo de ferro, apoiado em duas mísulas alongadas. Apresenta arquitrave e frontão triangular, com decoração brasonada no tímpano.
O andar inferior é encimado por entablamento arquitravado, e sobre estes, nos tramos laterais, localizam-se platibandas com frisos. Quatro estátuas, representando os quatro continentes, arrematam os vértices das platibandas e ladeiam o frontão.
As fachadas laterais têm composição mais simples, com renque de janelas de verga reta e guarnições em gnaisse, folhas duplas de vidro e venezianas. Na parte inferior da fachada, o embasamento é constituído por barra de argamassa de cimento com textura chapiscada pintada de cinza escuro, na qual se destacam frisos marcando vãos em gradil de ferro trabalhado, servindo à ventilação do porão alto.
A edificação apóia-se em fundações diretas, de pedra, e as alvenarias externas, também em pedra, são autoportantes. A estrutura de pisos e telhados é de madeira, e os painéis divisórios internos têm estrutura de madeira revestida de estuque. A maioria dos vãos tem enquadramento em pedra – granito carioca ou pedra de galho – e todas as esquadrias são em madeira, com exceção das esquadrias do porão. Os seus elementos construtivos refletem ainda a utilização de materiais de construção industrializados, como os vidros, as cerâmicas, as telhas francesas, os ladrilhos hidráulicos e elementos de ferro fundido. Estes últimos em maioria de procedência estrangeira, cujo uso foi estabelecido a partir das novas relações comerciais do Brasil, desenvolvidas durante o século XIX.
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