Fachadas: restauração e conservação
Antigos rebocos e argamassas que compõem a superfície dos edifícios históricos são elementos fundamentais para a caracterização e visibilidade das construções, tendo tanto um caráter histórico, como documento quanto um caráter estético, responsável pela percepção visual destes edifícios e de seu transcurso no tempo. O reconhecimento do seu valor nos leva a responsabilidade de preservar estas superfícies no maior grau de autenticidade possível, permitido estudos futuros e servindo de referência histórica as futuras gerações.
O Museu Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro, é um monumento protegido pela legislação nacional de preservação. Construído há mais de 150 anos, passou por uma série de transformações relacionadas ao envelhecimento natural de seus materiais constitutivos e a intervenções realizadas nas suas superfícies. Nos anos 1970, a Casa foi submetida a obras de restauração, com a introdução de argamassas cimentícias em alguns trechos, como o embasamento, e de tintas plásticas em toda superfície.
A incompatibilidade dos materiais e o transcurso no tempo trouxeram graves problemas de conservação a estas fachadas, como a desagregação da argamassa do embasamento, fissuras, estufamento, descolamento e perda de trechos da camada pictórica no paramento, e nos ornatos, além do desbotamento da pintura.
O desconhecimento dos processos que levaram a este estado de degradação motivou a realização de uma pesquisa aplicada onde além da investigação histórica e documental, realizamos testes analíticos e etapas experimentais como muro teste de argamassas e de pinturas onde foram testadas as soluções técnicas a serem aplicadas na fase de intervenção. A pesquisa “conservação preventiva das superfícies arquitetônicas”, definiu então a composição das argamassas e a tecnologia da cor a ser empregada na restauração e gerou um caderno de especificações que subsidiou projeto executivo realizado pelo arquiteto Jorge Astorga.
A intervenção foi realizada pela construtora Retrofit Engenharia, tendo o Arquiteto Cândido Campos como especialista técnico, e contou com a consultoria do CETEM (Centro de Tecnologia Mineral) para realização dos testes analíticos e análises laboratoriais. A intervenção foi acompanhada pelo IPHAN e pelo Núcleo de Preservação Arquitetônica da FCRB.
A intervenção se iniciou pela remoção de toda a argamassa do embasamento, que se encontrava em estado avançado de deterioração e substituição por nova argamassa de Cal e areia executada conforme traço testado na pesquisa e confirmado pelas análises em laboratório. O aspecto final do embasamento foi dado pela aplicação de um reboco da cal, dando uma textura menos áspera que a encontrada anteriormente e mais compatível com este sistema construtivo, e pintura com tinta mineral na cor cinza claro.
Para o paramento e os ornatos, que se encontravam pintados em tinta acrílica rosa, foram feitas diversas prospecções estratigráficas que revelaram a presença de toda as camadas de pintura, desde a mais primitiva. Estas tintas e seu substrato foram testados em análises laboratoriais e se constatou a presença de um substrato de argamassa de cal e de camadas de tinta a óleo, com forte presença de chumbo, o que reafirma a hipótese de serem camadas datadas das primeiras fases da ocupação da casa como residência.
Visto isso, a solução aplicada, com a premissa da não remoção das camadas históricas de pinturas, foi a remoção apenas da camada superficial em tinta acrílica e a repintura em tinta PVA na cor rosa para o paramento e em cinza claro para os ornatos, retomando as feições neoclássicas das fachadas que estavam matizadas pela cor única para paramento e ornamentação.
O resultado da intervenção se apresentou muito satisfatória e esta mesma metodologia será aplicada agora as demais edificações presentes no conjunto preservado, a antiga cavalariça, que já esta em fase de testes e prospecções para execução de sua restauração.