CORDEL EM ESTROFES

Ave-Maria da Eleição - LC6046
Data: 1907
Coleção Digital : Folhetos Raros - Poemas em Fragmentos

No dia da eleição
O povo todo corria
Gritava a opposição
xxxxxxxAve Maria.

Via-se grupos de gente
Vendendo votos nas praças
E a arna dos governos, [a urna do governo]
xxxxxxxCheia de graça.

Uns a outros perguntavam
O Sr. Vota comnosco
Um chaleira respondia
xxxxxxxEste é com vosco.

Eu via duas panellas
Com miudo de 10 bois
Comprimentei-a dizendo
xxxxxxxBemdita sois.

Os eleitores com medo
Das espadas dos alferes
Chegavam a se esconderem
xxxxxxxEntre as mulheres
.

Os candidatos chegavam
Com um ameaço bruto
Pois um voto para elles
xxxxxxxE' bemditos fructos.

O mesario do governo
Pegava a urna contente
E dizia eu me gloreio
xxxxxxxDo teu ventre.

A opposição gritava
De nós não ganha ninguem
Respondia os do governo
xxxxxxxAmen.


O Fiscal e a Lagarta - LC6087
Data: 1917
Coleção Digital : Folhetos Raros - Poemas Completos

Estava um dia uma lagarta
Debaixo de um pé de fumo
Quando levantou a vista
Viu um fiscal do consummo.
Disse a lagarta consigo:
Eu hoje me desarrumo.

O fiscal perguntou logo
Insecto, o que estás roendo?
A lagarta perguntou-lhe
Fiscal , que andas fazendo?
- Aperriando o commercio
Tomando tudo e comendo.

Disse o fiscal: para imposto
O governo me nomeia
A lagarta respondeu-lhe
Você precisa é cadeia,
Para perder o costume
De andar roubando de meia.

Disse o fiscal: o governo
Não puderá se manter,
Sem procurar o imposto
De quem comprar e vender,
Artista e agricultor
Pagam por justo dever.


As Misérias da Epocha - LC7003
Data: Provavelmente anterior a 1906

Coleção Digital : Folhetos Raros - Poemas em Fragmentos

Se eu soubesse que esse mundo
Estava tão corrompido
Eu tinha feito uma greve
Porem não tinha nascido
Minha mãi não me dizia
A queda da monarchia
Eu nasci foi enganado
Pra viver n'este mundo
Magro, trapilho, corcundo,
Alem de tudo sellado.

Assim mesmo meu avô
Quando eu pegava a chorar,
Elle dizia não chore
O tempo vai melhorar.
Eu de tolo acreditava
Por innocente esperava
Ainda me sentar n'um throno
Vovó para me distrahir
Dizia tempo ha de vir
Que dinheiro não tem dono.

xxxxxxx- 2 -

Só se ver hoje no mundo,
Agonia e desispero,
Fiscaes e procuradores
E numero de cobradores
Pondo tudo amedrontado
E para mais nossa melhora
Qualquer que nascer agora
O pai há de o ver sellado.

Dizem os filhos da Candinha
Que na camara dos deputados
Querem formar um projecto
Para os homens serem sellados,
Isso faz repugnar!
E pudemos acreditar.
Que o imposto não nos larga,
Podemos aguardar as horas
Que montem em nós com esporas
E nos façam carregar carga.

Havemos de andar agora
Do imposto amendrontados,
Com mil e cem de estampilhas
Nos chapeus e nos calçados
O que havemos de fazer?
Já não se pode soffrer
O fio da cruel fome
Os homens todos alerta
O Estado nos aperta
O municipio nos come.


A caganeira - LC7058 (s.d.)
Coleção Digital : Folhetos Raros - Poemas completos


Certa noite acordei de madrugada,
Apalpei a barriga, achei inchada
Eu nunca pari, tinha meu medo,
Que em mim se divulgasse tal segredo
Chamei logo a criada , moça bella,
Que trouxe a seringa de guerella,
Acceitei com valor a seringada,
De azeite e água morna misturada,
Fui logo ao bispote, e me assentando,
Mesmo sem querer me fui cagando,
Caguei cabos, sargentos , furrieis,
Capitães, majores e coroneis,
Soldados, alferes e tenentes,
Secretários, quarteis-mestres e agentes,
Porta-bandeiras, cagei então,
Quasi mata-me a tal indigestão,
E até da policia os capitães,
Do exercito, padres e capellães,
Officiaes, generaes tantos caguei
Que sem beira do cú quase fiquei,
Caguei vigários, parochos e bispos,
Abbades, priores e arcebispos,
(...)