BIOGRAFIA À
MODA DA CASA
Leandro Gomes de Barros, paraibano nascido em 19/11/1865, na Fazenda da Melancia,
no Município de Pombal, é considerado o rei dos poetas populares
do seu tempo. Foi educado pela família do Padre Vicente Xavier de Farias,
(1823-1907), proprietários da fazenda, e dos quais era sobrinho por parte
de mãe. Em companhia da família "adotiva" mudou-se para
a Vila do Teixeira, que se tornaria o berço da Literatura Popular nordestina,
onde permaneceu até os 15 anos de idade tendo conhecido vários
cantadores e poetas ilustres.
Do Teixeira vai para Pernambuco e fixa residência primeiramente em Jaboatão,
onde morou até 1906, depois em Vitória de Santo Antão e
a partir de 1907 no Recife onde viveu de aluguel em vários endereços,
imprimindo a maior parte de sua obra poética no próprio prelo
ou em diversas tipografias. Vale a pena transcrever o aviso no final de um poema,
A Cura da Quebradeira, que demonstra suas constantes mudanças e
o grande tino comercial:
"Leandro Gomes de Barros, avisa que está morando em Areias, Recife,
e que remetterá pelo correio todos os folhetos de suas produções
que lhe sejam pedidos”.
Sua atividade poética o obriga a viajar bastante por aqueles sertões
para divulgar e vender seus poemas e tal fato é comentado por seus contemporâneos,
João Martins de Ataíde e Francisco das Chagas Baptista:
"Voltando João Athayde
De Vitoria a Jaboatão
Quando chegou em Tapéra
Que saltou na estação
Encontrou Leandro Gomes
Entraram em conversação"
"Estava em Lagoa dos Carros,
O grande Chagas Batista,
Quando trouxeram-lhe à vista
Leandro Gomes de Barros,
que para comprar cigarros
tinha descido do trem (...)"
Foi um dos poucos poetas populares a viver unicamente de suas histórias
rimadas, que foram centenas. Leandro versejou sobre todos os temas, sempre com
muito senso de humor. Começou a escrever seus folhetos em 1889, conforme
ele mesmo conta nesta sextilha de A Mulher Roubada, publicada no Recife
em 1907:
Leitores peço-lhes desculpa
se a obra não for de agrado
Sou um poeta sem força
o tempo me tem estragado,
escrevo há 18 anos
Tenho razão de estar cansado.
Caboclo entroncado, de bigode espesso, alegre, bom contador de anedotas: este
é o retrato que dele faz Câmara Cascudo em Vaqueiros e Cantadores.
Casou-se com Venustiniana Eulália de Barros antes de 1889 e teve quatro
filhos: Rachel
Aleixo de Barros Lima, Erodildes (Didi), Julieta e Esaú
Eloy, que seguiu a carreira militar tendo participado da Coluna Prestes e da
Revolução de 1924. De Leandro só possuímos fotos
de meio-busto e uma de corpo inteiro, que colocava em seus folhetos para provar
a autoria de seus versos; de sua família, o que ficou para a história
foram os folhetos assinados com caligrafia caprichada, sobretudo os de Rachel.
Na crônica intitulada Leandro, O Poeta, publicada no Jornal do Brasil
em 9 de setembro de 1976, Carlos Drummond de Andrade o chamou de "Príncipe
dos Poetas" e assinala:
"Não foi príncipe dos poetas do asfalto, mas foi, no
julgamento do povo, rei da poesia do sertão, e do Brasil em estado puro".
E diz mais: "Leandro foi o grande consolador e animador de seus compatrícios,
aos quais servia sonho e sátira, passando em revista acontecimentos fabulosos
e cenas do dia-a-dia, falando-lhes tanto do boi misterioso, filho da vaca feiticeira,
que não era outro senão o demo, como do real e presente Antônio
Silvino, êmulo de Lampião".
Mas não foi só Drummond, nosso poeta maior, que reconheceria em
Leandro a majestade dos versos. Em vida era tratado por seus colegas como o
poeta do povo, o primeiro sem segundo (Athayde) e verdadeiro Catulo
da Paixão cearense daqueles ásperos rincões (Gustavo
Barroso).
Após o seu falecimento, em 4 de março de 1918, no Recife, o poeta
e editor João Martins de Ataíde, em seu folheto A Pranteada Morte
de Leandro Gomes de Barros, escreveu:
Poeta como Leandro
Inda o Brasil não criou
Por ser um dos escritores
Que mais livros registrou
Canções não se sabe quantas
Foram seiscentas e tanta
As obras que publicou.